
Catraca com rosto do prefeito Ricardo Nunes (MDB). (Felipe Cotrim/Crítica Socialista.)
Desde o dia 6 de janeiro de 2025, todos que usam o transporte público em São Paulo passaram a pagar as novas tarifas, que aumentaram de R$ 4,40 para R$ 5 nos ônibus e de R$ 5 para R$ 5,20 no metrô e nos trens. É o maior aumento da história de São Paulo nos últimos dez anos.
Com o aumento das tarifas de ônibus, o prefeito Ricardo Nunes (mdb) descumpriu uma promessa de campanha, quando ele havia dito que não haveria aumento nas passagens.
Nunes acompanhou seu aliado no governo do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também aumentou as tarifas no metrô e nos trens.
Ontem, 9 de janeiro de 2025, ocorreu o primeiro ato contra os aumentos das tarifas, convocado pelo mpl.
O ato teve concentração em frente à sede da Prefeitura, no viaduto do Chá, a partir das dezessete horas, mas, bem antes do horário combinado, todo o entorno da prefeitura, sobretudo a praça do Patriarca, estava repleta de gcm e pm.
Entre os manifestantes estavam estudantes do movimento estudantil secundarista e universitário e militantes de partidos políticos de esquerda, como psol, up, pcb, pcbr, por, entre outros. Não havia bandeiras de sindicatos ou de centrais sindicais, nem de partidos de esquerda maiores, como o pt, o que explica o ato ter sido pequeno — aproximadamente 2 mil pessoas.
Acompanharam os manifestantes observadores da oab-sp e da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. O padre Júlio Lancellotti, Chavoso da usp e a vereadora Amanda Paschoal (psol) também estiveram presentes.
Da imprensa, identifiquei alguns repórteres e cinegrafistas da mídia de esquerda independente, como Brasil de Fato, dcm e Esquerda Diário, e fotógrafos freelancers. De resto, só a TV Brasil e a Gazeta enviaram equipes de reportagem. O silêncio da cobertura acerca de uma pauta tão importante para a maior parte da população expõe, uma vez mais, de que lado estão os capitalistas dos jornalões paulistanos.
Como cerimônia de início do ato, por volta das 18h20, um jogral e a queima de uma catraca. Essa é a mística dos atos do mpl.
Os manifestantes marcharam pelo centro de São Paulo, sempre acompanhados por uma força desproporcional da pm. Passaram pelo Theatro Municipal, Barão de Itapetininga, subiram a Ipiranga e viraram na São Luís, passando pela biblioteca Mário de Andrade. Ali, desceram a Consolação, sentido Anhangabaú, passando pelo Obelisco do Piques.
O trajeto pelo centro histórico de São Paulo expõe outros problemas estruturais da cidade, com frequência apresentada como a mais rica da América Latina.
A população de rua tem aumentado exponencialmente. Em 2022, segundo o Censo do ibge, a cidade tinha aproximadamente 50 mil sem-teto. Em 2024, a população de rua passou para 90 mil.
Outro problema visível é o lixo, de todo o tipo e origem, espalhado pela cidade. A sensação é de que não há mais coleta de lixo, ou que o Centro virou um aterro, mas nada sanitário. Como estamos no período das chuvas, o lixo espalhado tende a gerar enchentes, que emporcalham ainda mais a cidade.
Por volta das 19h30, o ato chegou próximo ao Anhangabaú, na entrada do terminal Bandeira, onde se deparou com uma barreira da pm, com outra, um pouco mais atrás, da Tropa de Choque. Ali, a pm decidiu encerrar o ato. Ela assim o faz, quando quer e do jeito que quiser.
Policiais, com pistolas em punho, passaram a entrar no meio dos manifestantes e realizar enquadros indiscriminados. Todos foram liberados. Um pouco depois, quase as oito horas, os organizadores realizaram outro jogral, o último da noite, encerrando o ato e anunciando o próximo, dia 16, quinta-feira, às dezessete horas, na praça da República.
Durante a dispersão, a pm enquadrou outro manifestante, também liberado.
Depois, todos voltaram para casa, pagando R$ 5 ou R$ 5,20 para pegar um busão, metrô ou trem sucateados.

Manifestantes preparados para iniciar a marcha pelo Centro, um pouco antes do primeiro jogral e da queima da catraca. (Felipe Cotrim/Crítica Socialista.)
A PM acompanha os manifestantes, em frente ao Theatro Municipal. (Felipe Cotrim/Crítica Socialista.)



Manifestantes passando pela Barão de Itapetininga, Ipiranga e São Luís. (Felipe Cotrim/Crítica Socialista.)



Ato próximo do fim, na entrada do terminal Bandeira, quando a PM e a Tropa de Choque montaram barreiras e passaram a enquadrar manifestantes. (Felipe Cotrim/Crítica Socialista.)

Autor
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Editor-executivo da Crítica Socialista. Mestre em História Econômica pela USP. Autor de Jovem Engels: evolução filosófica e crítica da economia política (1838-1844) (Viriato, 2022).
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