Crítica Socialista, n. 3, maio/jun. 2025
Publicação em 28 de junho de 2025.
Editorial
Mensagem de Primeiro de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador
International Socialist Center “Christian Rakovsky” • RedMed
Mensagem do International Socialist Center “Christian Rakovsky” e do RedMed na ocasião do Primeiro de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador. O texto apresenta análise da conjuntura internacional e os desafios políticos das classes trabalhadoras, alertando para o renascimento do fascismo e dos riscos de mais uma guerra mundial imperialista.
A Batalha de Los Angeles de Junho de 2025: explode a repressão policial-militar da administração Trump
Luis Bonilla-Molina • Jorge Lefevre-Tavárez
Uma das maiores metrópoles do planeta, Los Angeles é conhecida tanto pelo cinema, pela música e pelos congestionamentos infernais quanto pelas rebeliões populares e pela violência policial. Há dias, a população organiza manifestações de rua contra as batidas do ICE e em defesa dos trabalhadores, imigrantes ou não, vítimas da política draconiana de perseguição e deportação do governo federal. Em razão do caos gerado pela repressão policial às manifestações, Donald Trump se aproveita para tumultuar ainda mais a situação ao enviar tropas da Guarda Nacional para reprimir os manifestantes, fortalecendo seu cerco aos direitos dos trabalhadores e enfraquecendo o que ainda resta de democracia no país.
Privatização da ajuda humanitária em Gaza
Sungur Savran
A privatização avança até em serviços mais essenciais, de empresas estatais estratégicas à ajuda humanitária em zonas de guerra. Israel, buscando controlar a narrativa e acelerar a limpeza étnica em Gaza, expulsa agências da ONU para substituí-las por uma operação privatizada. O caso revela como o capital transforma a solidariedade em negócio, subordinando vidas humanas ao lucro e à dominação política.
Trump, o homem que declara guerra ao mundo
Sungur Savran
Os cem primeiros dias do segundo governo Trump foram mais imprevisíveis, ou insanos, do que os analistas mais pessimistas poderiam antecipar. A “esquerda” estadunidense não sabe como reagir e cede mais terreno ao avanço do fascismo no país. Na política internacional, os Estados Unidos se isolam ainda mais e criam o contexto para guerras, ou para a guerra.
O governo de Jair Bolsonaro e a questão do fascismo
Luiz Bernardo Pericás
O bolsonarismo não é uma ideologia, mas um pacto de milicianos, neopentecostais e uma elite rentista, uma distopia reacionária moldada pelo atraso brasileiro, não pelo modelo de Mussolini ou Hitler.
O Primeiro de Maio e o imobilismo das esquerdas: alguns desdobramentos
Walter Ramalho
O Primeiro de Maio de 2025 expõe a fragmentação da esquerda no Brasil, com atos burocratizados, disputas internas e a CUT abandonando a luta de ruas. Enquanto o lulismo aprofunda sua conciliação com o capital, a esquerda classista falha em unificar pautas, como a revogação da jornada 6 × 1. O cenário lembra o reformismo francês — La France insoumise apoiando Emmanuel Macron contra Marine Le Pen — e o colapso do peronismo na Argentina, que pavimentou a vitória de Javier Milei. Sem enfrentar o neoliberalismo e priorizando alianças liberais, a esquerda brasileira abre espaço para a direita, enquanto o proletariado perde referências de luta anticapitalista. A resistência exige independência de classe e ruptura com o imobilismo.
O canto do tucano e o colapso da forma liberal de dominação burguesa
Rômulo Corrêa
A decadência do PSDB expressa o esgotamento do liberalismo no Brasil, sobretudo depois da crise capitalista de 2008. O partido, que liderou reformas neoliberais nos anos 1990, perdeu espaço em um cenário de polarização entre o progressismo social-liberal, liderado pelo PT, e a extrema-direita reacionária. As crises econômicas e políticas das últimas décadas revelam a falência da democracia liberal como forma de mediação dos conflitos sociais e, possivelmente, o colapso de um modelo de dominação burguesa. Diante disso, é urgente uma alternativa revolucionária capaz de superar tanto a gestão tecnocrática dos progressistas quanto o autoritarismo dos fascistas e dos reacionários.
O povo do Sri Lanka expulsou a velha classe política
Balasingham Skanthakumar
A aliança progressista que apoia o novo presidente do Sri Lanka, Anura Kumara Dissanayake, obteve uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de novembro de 2024. O governo tem um mandato claro para a mudança, mas agora enfrenta muitos obstáculos em sua estratégia de reformas.
A práxis marxista na história contemporânea
Carlos Bauer
O ensaio apresenta crítica à hegemonia capitalista na educação e na sociedade, denunciando a alienação e a falsa neutralidade das instituições. Com base na filosofia marxista da práxis, propõe a união entre teoria e ação como via para a transformação social. Defende a mobilização coletiva e a construção de uma cultura socialista democrática. Rejeita reformas superficiais e ONGs que mantêm desigualdades sob discursos progressistas. Conclui que a mudança exige ação imediata, articulando crítica dialética, a insurgência e o engajamento político internacionalista das classes trabalhadoras.
Os ritmos da Revolução dos Cravos: uma leitura braudeliana do processo revolucionário português
Lincoln Secco
Em meio à Guerra Fria e à recessão dos anos 1970, o decadente, mas longevo, Império Português entra em convulsão revolucionária. O povo adere às operações do MFA em 25 de abril de 1974, que derrubou o regime fascista salazarista e impulsionou a independência das colônias africanas. Por meio de uma análise em três atos — de longa, média e curta duração —, o ensaio examina a história do Império Português, da ditadura de Salazar e da Revolução dos Cravos, a qual celebra 51 anos.
Dia da Vitória, oitenta anos depois
DİP
Mensagem e reflexão do DİP, Devrimci İşçi Partisi [Partido Revolucionário dos Trabalhadores], a respeito do octogésimo aniversário da vitória sobre o fascismo e a presente conjuntura econômica e política.
O verdadeiro herói da “Grande Guerra Patriótica”. Parte 1
Sungur Savran
O ensaio discute a importância do povo soviético como o verdadeiro herói da Segunda Guerra Mundial, ou Grande Guerra Patriótica, destacando o sacrifício coletivo em vez de figuras individuais. Enfatiza a resistência, união e determinação dos cidadãos comuns, soldados e trabalhadores que garantiram a vitória contra a Alemanha nazista e reflete acerca da narrativa histórica que celebra a bravura do povo, em contraste com a glorificação de líderes políticos ou militares, sobretudo aqueles que, por falta de previsão, deixaram a União Soviética e seus operários e camponeses à mercê da barbárie nazista.
A Suprema Corte versus Cristina Kirchner
Política Obrera
A perseguição judicial à ex-presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, é mais um capítulo do assédio do capital contra os direitos das classes trabalhadoras no país. Mesmo havendo divergências entre as esquerdas argentinas, é necessário unidade e solidariedade na luta para resistir e contra-atacar os avanços das direitas, sobretudo em suas formas fascistas.
José “Pepe” Mujica (1935-2025)
Camilo Márquez
Conhecido pelo modo de vida simples e pelas quebras de protocolos, o montevideano Pepe Mujica morreu em 13 de maio de 2025, de câncer, aos 89 anos. Dedicou-se à política durante quase toda a vida, sendo guerrilheiro urbano durante os anos 1960 e 1970, prisioneiro político entre 1972 e 1985, e presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Sua filosofia política e de vida — democracia, reformismo e desprendimento — deixarão raízes nas esquerdas latino-americanas.
Resenha
André Barbieri, China, onde os extremos se tocam: Trótski, revolução permanente e a crítica ao multilateralismo do capital na era Xi Jinping. Apres. de Iuri Tonelo. Pref. de Bruno de Conti. São Paulo: Iskra, 2025. 496 pp. ISBN 978-65-89174-09-7